Após ser abandonado por parte da cúpula militar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desistiu de publicar o decreto do golpe para não “embarcar sozinho” na insurreição e acabar preso como o ex-presidente do Peru Pedro Castillo, que em 2022 tentou dissolver o Congresso e terminou detido, diz relatório da Polícia Federal divulgado ontem.
Informação consta em diálogo entre militares, ao qual a PF teve acesso. A conversa foi por WhatsApp entre o tenente-coronel Sérgio Cavaliere, do “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”, e o coronel Gustavo Gomes. No dia 20 de dezembro de 2022, Gomes pergunta a Cavaliere se havia “algo novo front”, em referência à publicação do decreto golpista.
Tenente-coronel cita diálogo com o então ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid, para dizer que “não vai rolar nada”. Em áudio ele explica que Bolsonaro havia recuado porque o Exército e a Aeronáutica não aderiram ao golpe. “A Marinha aceitou, mas necessitaria da participação de outra Força (…) pois não guenta (sic) a porrada que vai tomar sozinha”, afirmou Cavaliere.
O risco, diz o militar, era que Bolsonaro terminasse preso como Pedro Castillo no Peru. Em 7 de dezembro daquele ano —13 dias antes do diálogo— Castillo foi destituído e preso após dissolver o Congresso, em uma tentativa fracassada de golpe.
O presidente não vai embarcar sozinho porque pode acontecer o mesmo que no Peru. Ele está com decreto pronto, ele assina e aí ninguém vai [e] ele vai preso. Então não vai arriscar.
Sérgio Cavaliere, tenente-coronel
O relatório não fornece detalhes sobre Gomes, o interlocutor. Ele é citado nas fontes como um coronel do Exército que se comunicava com Cavaliere, um dos envolvidos na elaboração da “Carta ao Comandante do Exército”. Gomes demonstrava conhecimento sobre os planos golpistas em andamento, mas sua relação com outros militares golpistas, além de Cavaliere, não foi revelada.