Investigações feitas ao longo do ano passado buscaram responsabilizar as pessoas que participaram dos ataques golpistas de 8 de janeiro aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, mas também visaram encontrar lideranças e até financiadores dos atos.
A Operação Lesa Pátria foi mobilizada pela Polícia Federal e teve mais de 20 fases no decorrer do ano com prisões, buscas e apreensões junto a pessoas com envolvimento apontado nos atos de 8 de janeiro.
Ao menos duas pessoas de Santa Catarina foram presas nestas operações abertas após os ataques. Uma delas foi o pastor Dirlei Paiz, 40 anos, morador de Blumenau. Ele é investigado por suspeita de financiar os atos golpistas de 8 de janeiro. A detenção ocorreu em agosto do ano passado, na 14ª fase da Lesa Pátria.
O pastor estava dormindo quando os agentes da PF chegaram à residência dele, ao amanhecer. A investigação está em sigilo e não divulgou detalhes de qual seria a participação dele diretamente nos atos. No entanto, nas redes sociais Dirlei publicava mensagens de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e defendendo pedidos como por “intervenção federal”.
Dirlei foi candidato a vereador de Blumenau em 2020 e no momento da prisão trabalhava há três meses na Câmara de Vereadores de Blumenau, como coordenador político do presidente da Casa, Almir Vieira (PP). No mês seguinte à prisão, Dirlei foi exonerado do cargo.
O pastor foi solto quatro meses depois, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) concedida no dia 7 de dezembro. Apesar disso, ele ainda é alvo da investigação. O inquérito específico que investiga os suspeitos de financiarem os atos de 8 de janeiro está em segredo de justiça. Por isso, os nomes de todos os envolvidos não são conhecidos.
Entre os suspeitos de financiarem os atos, apenas uma pessoa já foi indiciada até o momento pelo Ministério Público Federal (MPF): um empresário paranaense que teve a denúncia apresentada em 14 de dezembro. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, trata-se de Pedro Luis Kurunczi, de Londrina (PR), que teria gasto R$ 59 mil para fretar quatro ônibus e levar 108 pessoas a Brasília.
Fátima de Tubarão também foi presa na Lesa Pátria
Outra catarinense presa na Operação Lesa Pátria foi Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, de 67 anos, que ficou conhecida pelo apelido de “Fátima de Tubarão”, cidade em que mora, no Sul de Santa Catarina. Ela foi detida na terceira fase da investigação, 20 dias após os ataques em Brasília, no fim de janeiro.
Fátima é alvo de outro inquérito, que apura quem foram os participantes dos atos de 8 de janeiro, mas foi presa na operação que investiga também os organizadores e financiadores. Segundo a investigação, Fátima foi filmada participando dos atos golpistas. Em imagens da invasão que viralizaram nas redes sociais, “Fátima de Tubarão” aparece falando frases como: “Vamos para a guerra, é guerra agora. Vamos pegar o Xandão agora”, fazendo referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Em outro vídeo, ela declarou que estava “quebrando tudo”.
Fátima de Tubarão permanece presa em uma unidade prisional de Criciúma, confirmou a Secretaria de Administração Prisional (SAP) de Santa Catarina. Ela também virou ré por participação nos atos de 8 de janeiro em uma das ações no STF em agosto do ano passado e atualmente aguarda julgamento.
Além do processo sobre os atos de 8 de janeiro, Fátima também é ré em outros processos, um deles com condenação, por tráfico de drogas, em 2014. A pena foi substituída por medidas restritivas de direitos.
Mais catarinenses alvos de investigações
Além dos dois catarinenses presos em fases da Operação Lesa Pátria, a investigação também cumpriu outros mandados em cidades catarinenses. Somente em uma das ações, a PF cumpriu mandados em 14 cidades catarinenses, incluindo Criciúma, Blumenau, Rio do Sul e Florianópolis.
Outros investigados que não são de Santa Catarina também foram presos em fases da Lesa Pátria por supostamente participarem ou financiarem os atos de 8 de janeiro, como a cantora gospel Fernanda Ôliver, de Goiânia (GO).
Nesses casos, no entanto, os nomes dos alvos não foram divulgados. Nessa quinta-feira (4), o ministro interino da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, afirmou que a operação “segue sem data para acabar, desvendando tudo que aconteceu naquele dia [8 de janeiro]”.
Contrapontos
Em nota, a defesa do pastor Dirlei Paiz, afirma que a prisão dele foi injusta, mas também compreensível, “haja vista ele, naquele momento, ser visto como uma liderança de direita na cidade de Blumenau e isto incomoda gente de várias matizes políticas, o que nos leva a crer que várias denúncias levaram o judiciário ao erro determinando a prisão do pastor Dirlei”.
O texto aponta ainda que, “tecnicamente conseguimos provar a inocência do pastor em relação aos fatos imputados a ele, sendo que até a PGR se manifestou favorável aos argumentos da defesa, o que fez com que o STF determinasse a soltura do pastor Dirlei Paiz”. Segundo a defesa, apesar de cumprir medidas cautelares, a expectativa é que o inquérito seja arquivado.
A reportagem fez contato com a defesa de Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, mas não obteve retorno até a publicação. Caso ocorra, o texto será atualizado.