A vítima foi alvejada na barriga na noite de domingo (1°) e está internada. Até o momento, não se sabe a origem do disparo. Procurada, a Secretaria da Segurança Pública informou que não localizou o registro da ocorrência.
Antes de jogar um jovem do alto de uma ponte na Zona Sul de São Paulo na noite de domingo (1°), os policiais militares tinham dispersado, perto dali, um baile funk que terminou com um homem baleado, segundo testemunhas.
A esposa da vítima baleada, que prefere não ser identificada, contou à TV Globo que eles estavam em um baile funk quando PMs apareceram e lançaram bombas de efeito moral, provocando muita correria.
“Assim que a gente chegou, tinha uma aglomeração e a gente foi para ficar próximo. Quando a gente foi começando a andar, veio muita polícia. Nessa correria, todo mundo se assustou. Tiro, bomba, tudo… a gente correu. Próximo desse rio, a gente correu e entramos no escadão. Quando eu olhei tava muito sangue na calça dele”.
— Mulher da vítima baleada
O homem só percebeu que era um ferimento a bala quando chegou em casa. “Quando eu tirei [a roupa dele], percebi que realmente era um tiro de arma de fogo e que atravessou a barriga dele. Foi quando eu comecei a pedir socorro, socorro. Eu trouxe ele para o hospital”, relembra a esposa.
A vítima passou por uma cirurgia e recebeu alta na segunda-feira (2). Após uma piora no estado de saúde, voltou para o Hospital Municipal de Diadema, conhecido como Piraporinha, onde segue internado.
O casal não sabe a origem do disparo efetuado durante o baile funk. Questionada pelo g1, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que não localizou o registro da ocorrência.
“No entanto, o 97º DP e a Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (CERCO), da 2ª Seccional, realizam diligências para identificar a autoria e esclarecer os fatos. A SSP reforça o compromisso de suas forças policiais com a investigação completa e transparente, visando à responsabilização dos envolvidos”, disse a pasta em nota.
“A gente não tem como afirmar de onde saiu [o tiro]. É como a polícia falou, vai um monte de gente para curtir e um monte de ‘mala sem alça’, mas a polícia também chegou como lá? Não tem como afirmar se veio de uma pessoa aleatória, se foi de um policial. Mas que veio, veio a bala”, disse a mulher.
Os bailes funks aos finais de semana são alvo constante de operações policiais, que, segundo pesquisadores, servem como uma repressão a esse movimento de expressão cultural negra e periférica. Um levantamento apontou que ao menos 16 pessoas foram mortas e 6 adolescentes perderam a visão nesse tipo de operação na Região Metropolitana de São Paulo entre 2012 e 2024.
“É inadmissível, não existe isso aí. A polícia está aí para fazer a defesa da população, não fazer o que fez. Trabalhador [o filho], menino que sempre correu atrás do que é dele. Não tem envolvimento, passagem [pela polícia], não tem nada. Queria a explicação desse policial e o porquê ele fez isso”, afirmou.
Um vídeo enviado à TV Globo flagrou o momento da abordagem. Nas imagens, é possível ver que um policial levanta uma moto que está no chão. Um segundo e um terceiro policial se aproximam. Depois, o primeiro PM encosta a moto perto da ponte.
Um quarto policial chega segurando o homem pela camiseta azul, que seria o motociclista abordado. Ele se aproxima da beirada da ponte e o arremessa no córrego (veja acima). Nenhum dos colegas faz nada.
Vídeo mostra momento em que PM joga homem de ponte durante abordagem em SP — Foto: Reprodução/TV Globo
13 PMs afastados
De acordo com a Polícia Militar, os agentes são do 24º BPM de Diadema, na Grande São Paulo. A Corregedoria da Polícia Militar afastou das ruas 13 policiais envolvidos direta ou indiretamente no episódio.
Segundo fontes da Secretaria de Segurança Pública (SSP), dois sargentos e 11 cabos e soldados estão sendo ouvidos sobre o caso e ficarão afastados das ruas até o fim das investigações.
Todos os PMs usavam câmeras corporais e gravaram a abordagem. Essas imagens serão usadas pelos investigadores para entender os detalhes da ocorrência. Até a última atualização desta reportagem, não houve pedido de prisão para nenhum dos policiais envolvidos.